A NOVA VERSÃO JONTEX

Ilustração: Rogerio Rios

Ao contrário do que muitos pensam, não sou próxima do Marcelo Nova ou possuo laços de amizade com o cantor. Já com os demais integrantes da banda, sim, e muito, ao qual me permitiria fazer algum tipo de juízo de valor das suas personas e atitudes. Contudo, as poucas vezes em que falei com o próprio, me convém dizer: o líder dos “camiseiros” sempre foi atencioso, gentil e educado. Ao menos, comigo!

Por estar sempre muito próxima aos que cercavam o vocalista na trajetória do “Camisa de Vênus”, - nos áureos tempos - tive acesso a muitos “causos” e histórias sobre as suas excentricidades, as quais deixaram bem claro, para mim, que ele é o tipo do cara de poucos amigos. Aliás, amigo baiano do Marceleza, que eu tenha conhecimento, só o nosso querido Miguel Cordeiro.

Referente ao episódio do último dia 29/09, em Ilha Bella (SP), que ocorreu a suspensão do show por conta do seu discurso (pedindo as garotas para que cantassem com ele e enfatizou tratar-se de uma brincadeira), acho uma gigantesca hipocrisia por parte da prefeitura contratante, em ter interrompido a apresentação ou querer impor qualquer tipo de punição ao conjunto. Pronto, falei!!!

Não que eu julgue que o assunto - pega o pau pra bater na mulher - seja um “mi mi mi” como uns e outros dizem por aí. Não é isso! (Até porque, eles sempre diziam que o “pau” a que se referiam na canção era outro). Violência feminina de qualquer natureza, deve ser tratada, imediatamente, na polícia. Isso está totalmente fora de questão!

Ora! Trata-se da contratação do Camisa de Vênus, e quem a faz, sabe muito bem o que está levando pra casa, ou não?! Será que a prefeitura de Ilha Bella contratou uma atração musical sem conhecê-la? Não pediu um repertório para finalidades de contrato, sem saber a anuência da banda e etc.??? Tá de brincadeira, né?!

O que fez o Camisa ser a única banda “fora do eixo” a chegar onde chegou no Brasil, aonde nenhuma outra tinha chegado, foi essa acidez com a qual, não somente o Marcelo, mas também os demais integrantes distorciam em suas letras. E toda a transgressão punk e violenta que carregava o conjunto.

Na minha opinião, “SILVIA” é “café com leite” perto de tantas outras canções composta pelo trio - Nova, Hummel e Mullem. A começar por “BETE MORREU”, que faz um breve relato sobre um estupro coletivo a uma jovem; “MEU PRIMO ZÉ” que zomba das características ético/morais do cidadão tupiniquim e até, “PAU NO CÚ DE DEUS“, uma música que os próprios punks se recusaram a consumir na obra da transgressora banda.

Portanto, Marcelo não é machista, não é homofóbico e todos esses “istas” que nos repugnam a natureza. Nova nem é simplesmente ácido...ele é atômico. Ele tem nitidamente a intenção que a sua obra não passe incólume por quem decidir ouvi-la; você precisa amá-la ou odiá-la, e pronto!

Nunca o vi buscar aceitação através dos seus discursos, nem rogar por simpatia pelas suas performances. Nem mesmo, me pareceu se preocupar se gostavam ou não do que fazia, ele fazia e pronto. Esse era o espirito da coisa, isso foi o que realmente fez com que o “Camisa” quebrasse a banca... transgressão! Essa era a ordem do dia.

Inclusive, no seu programa Rock Especial, ele detonava a fina flor da MPB, ao qual somente um perfeito idiota poderia detonar a robustez das obras de Gil’s, Caetano’s e Chico’s. Era muita prepotência para alguém que escrevia “bota pra fudê”, mas, esse era o “Cara”. Marcelo e sua banda, recusaram-se a estar em vários programas populares, e nos poucos que estiveram, muitas vezes foram retirados do ar. Eram “boca suja” e não tinham bons modos, nem queriam ter! Fazia parte do show.

Nova e sua trupe não abriram as portas do mainstream para o Camisa de Vênus entrar, eles a arrombaram aos chutes e pontapés.

É!!! Acho realmente que o “cara” envelheceu, na minha opinião o erro do Marcelo não foi executar “SILVIA”, e, sim, justificar-se por ela!

Com diz o sábio filósofo: “O mundo começou a desandar quando o MERTHIOLATE parou de arder”.

Ângela Cristina

Manager de Eventos Culturais e Produções Musicais, Tesoureira e membro da Diretoria do SINDIEVENTOS da Bahia, Ascom e Assessoria do Coletivo Cultural Baiano. Fundadora do Clube da Escrita Salvador. Produtora há mais de 15 anos atuando na cena alternativa trabalhando com bandas importantes do cenário baiano.

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