Clube dos Bons Sons

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O Andarilho

Ilustração: Rogerio Rios

Na minha vida, a mais fiel prostituta é a música! Ela embala meus dias com o pesadelo das flores e frases que enfeitarão a lápide em meu epitáfio.

Há uma arma engatilhada mirando diretamente a minha nuca; pronta para disparar e estourar os meus miolos, mas, isso não matará as lembranças que guardo e que me alimentam.

Eu ando desviando do caos em campos minados. Vivo cercado de abismos, decifrando códigos, mastigando senhas, fazendo amor com as granadas, especialmente aquelas embaladas em papéis crepom com laços de fita.

Perdi as contas dos sinais, das feridas e cicatrizes, das chagas que ainda jorram sangue cujo tempo que ainda me resta não é o bastante pra estancá-las.

E ainda que tudo isso tente me tirar o brilho, não inventaram pra mim um sofrimento que possa o ofuscar.

És a mulher, o homem, o médico e o lobisomem.

És o filho, o pai, o fardo do andarilho.

A mãe, a pátria, a mátria, a leveza do silêncio de quem não sabe o momento e nem a origem do tiro.

Eu vivo morto, ressuscitando as alegrias, nos olhos da saudade, nos lábios de tantas vias, circulando entre a espera da estupidez do ardiloso tiro e o prazer dos meus pulsos nos dentes do vampiro.

Avante, na ativa, positivo e operante!

Pra sempre e mais um dia!