ROCK'N'ROLL

E, assim, acontece desde o começo dos tempos. "Isto é uma moda passageira"; "Este tipo de música não irá durar mais dois anos"; "O Rock morreu!".

Seis décadas se passaram e o “bicho” continua respirando e contrariando todas as previsões. A música dos negros, o Blues, os murmúrios e as pisadas dos campos de algodão, os cantos Gospels nos templos, passando pelos sons dos embalos dos guetos e dos ranchos caipiras, até ser descoberto por artistas brancos em uma espécie de apropriação para conquistar a juventude no final dos anos 1950.

E a coisa fugiu do controle. Atravessou mares e oceanos, aportou na Inglaterra e se espalhou feito rastilho de pólvora pelos continentes de norte a sul, de leste a oeste.

Ganhou status de Alta Cultura quando foi lapidado pela habilidade instrumental e pela palavra com teor literário. Se aboletou nas paradas de sucesso, se escondeu nos subterrâneos. Foi proscrito, banido e proibido em nações totalitárias.

O Rock'n'Roll mostrou ser uma metamorfose ambulante, um camaleão, uma mosca na sopa das raízes culturais dos que o enxergaram como inimigo público e destruidor das tradições regionais. Um agente do imperialismo com poder de gerar rebelião e insatisfações contra o establishment do estado vigente.

Seis décadas sem tirar de dentro. Modismos vêm, modismos se vão, sem deixar um cisco que seja de legado. Inclusive, modismos com elementos e rótulos do próprio Rock.

Vira e mexe a ladainha retorna às manchetes determinadas pelo “marqueting” novidadeiro - o tal do hype. "O Rock morreu!". O populacho acredita. Os produtores do mainstream acompanham o veredito. Porém, quando tudo parece estar morto e sepultado, eis que surge um ruído do outro lado da rua. Trata-se de alguma banda de moleques ou um agrupamento de coroas que fazem reacender as labaredas do Rock. E ele, mais uma vez, entra em cena, revigorado. Pode ser só por uma noite, que mude a História ou que não vá a lugar nenhum. Pouco importa. Enfim, não há mesmo futuro como disseram os punks. O Rock não morreu. O clássico daquela banda das antigas que encerrou as atividades voltou ao topo das mais executadas mundo afora. Aquele grupo de dinossauros, que envelheceu na idade cronológica, lançou, ainda ontem, um álbum de inéditas que simula o vigor juvenil e que pode ser real ou não. Isto é apenas rock'n'roll. E nós gostamos!

A vida é breve, mas a arte é eterna. E quando tudo parecer monótono, aí vem o Rock que tem o sabor da vingança que é servida em prato frio.

Há cerca de vinte anos, um jovem repórter perguntou ao grande tecladista Herbie Hancock se o jazz tinha acabado, porque o citado estilo musical não estava mais nas manchetes dos jornais. E Hancock respondeu: "o Jazz não morre; o Jazz voltou a pulsar no underground que é o seu berço, seu nascedouro, seu lugar de origem. E isso é maravilhoso". Sábias palavras do jazzman. O Rock também tem este hábito de refugiar-se no underground quando, porventura, os ventos não são favoráveis e não sopram em sua direção.

O Rock não morreu, ao contrário, ele está muito vivo e vívido!

Miguel Cordeiro

Artista visual. Também atua como músico, compositor, e vocalista em bandas de Rock.

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