Clube dos Bons Sons

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Mil e Uma Noites Sem Seus Deuses

Ilustração: Rogerio Rios

Jogam bombas
Enquanto planto flores
Nos jardins
Da minha inocência
Olho o céu
Sem imaginar dores
Nos confins
Da minha incoerência
Soam alarmes
Explosões
E tudo que consigo
É sepultar emoções.

II

Pari terremotos
Sou mãe de todos os povos
Arranquei dos mortos
Uma vida pronta para novos desafios
Pari tempestades
Sou mãe de todas as possibilidades
Ejetei um projeto
Um projétil pronto para as adversidades
Pari erupções
Sou mãe do fogo dos vulcões
Apostei no acaso
Uma junção de oceanos e rios
Pari o que era estranho
Tamanho para mim é uma porta
Que passe quem me aguenta
Que detenha quem não me suporta
Pari mil vezes
O que mil vezes eu desejei
Sou mãe de todos os acertos
Dos erros eu já não sei

III

Onde estaremos
Depois que as sirenes soarem
Que as bombas
Gritarem suas mentiras incontestáveis
Onde iremos
Depois de fechadas as portas
E de nos deitarmos
Ao lado de tantos corpos putrefatos
Onde vamos poder orar
E para que Deus
Depois que os escombros
Ocultarem todos os dogmas
Onde vamos esperar
Pelo socorro que não virá
Se não somos
O que querem que sejamos
Onde publicaremos
As nossas derrotas passageiras
Se restar algo
Nas trincheiras devastadas
E se entre tantas lágrimas
Surgir um sorriso
A quem nós devemos
Agradecer.

Leia ouvindo: Rosa de Hiroshima
(Gerson Conrad / Vinícius de Moraes)
Secos & Molhados