Clube dos Bons Sons

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Mar Vivo

Ilustração: Rogerio Rios

Resolvi, por uma simples razão, começar este texto com uma citação de Khalil Gibran, em O Profeta: “Pois a vida e a morte são um, assim como o rio e o mar são um.” Há alguns instantes, enquanto escutava uma canção que me é muito familiar peguei-me lembrando mais uma vez do curto, porém extremamente intenso, livrinho de Gibran. Devo antes dizer que minha primeira leitura do referido escrito havia sido há quase cinco anos. Bem, o som que ondeava em minha direção era o de Mar Morto, da banda mineira Lupe de Lupe. Talvez isso se deva às referências e à intensidade em todas as suas nuances. Definitivamente, não dá para escutar o conjunto da obra sem parar e perceber-se experimentando o que está sendo colocado para fora. As batidas vêm dando ênfase ao que é dito.

É incrível como momentos podem ser marcados e lembrados ao genuíno toque de uma nota musical. Relembramos e parece também que revivemos sensações de glória ou perdição. Mas nos detenhamos aqui no primeiro, o sentimento de esplendor. É como se as recordações fossem junções que se tornam uma só reminiscência que ressurge e transborda como nunca antes na hora da emoção. E para o leitor de Marcel Proust, como agora não lembrar do autor e suas famosas madeleines de Em Busca do Tempo Perdido?

As memorações, afinal, vão além, não têm fronteiras com absolutamente nada. Não há sistema sensorial que permaneça intacto.

Quem resiste ao toque das músicas que lhe inspiram força, confiança ou até mesmo gratidão?

Não há esquecimento, não há fim para o que sempre estará vivo em nós.